Carlos Lacerda (ao centro) foi um dos pilares civis do golpe de 64.
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- Author,Thomas Pappon
- Role,Da BBC Brasil em Londres
- 20 março 2024
“Estamos ansiosos por um governo honesto”. Esse foi um dos argumentos usados pelo governador da Guanabara, Carlos Lacerda, para justificar o golpe militar de 31 de março de 1964 em entrevista à BBC dois meses depois, em 8 de junho.
Lacerda, um dos principais pilares civis do novo regime militar — e um dos governadores a apoiarem abertamente o golpe que derrubou o presidente João Goulart — embarcara para Europa em maio, pouco após a posse do general Castelo Branco, eleito presidente pelo Congresso, com a missão de divulgar os planos do novo governo.
Segundo pesquisa feita por Vilma Keller para o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getulio Vargas, Lacerda “esteve na França, Inglaterra, Itália, Grécia, Alemanha, Portugal e Estados Unidos, concedendo entrevistas à imprensa e entrando em contato com autoridades governamentais”.
Na curta entrevista à BBC, um raro documento de como lideranças de direita brasileiras respondiam a críticas, no exterior, ao golpe militar (“O sr. não acha deprimente ter um general como presidente?” é a pergunta inicial feita pelo apresentador da BBC Colin Jackson), Lacerda diz acreditar que o governo militar era temporário e que o objetivo deste era recolocar o país em uma trajetória voltado “para o futuro”.
“As eleições serão convocadas no momento devido, que é outubro de 1965”, afirma Lacerda na entrevista, em inglês, concedida ao programa Ten O’Clock em 8 de junho de 1964 — e recentemente descoberta nos arquivos da BBC.