EDITORIAL: A guera chegou ao Continente?

Operação Lança do Sul ou Boia Salva Vidas?

Por Agenor Candido – 24 de novembro de 2025

O suposto ataque dos Estados Unidos ao vizinho Venezuela (a chamada “operação Lança do Sul”) nos traz profunda preocupação. Ninguém com consciência humanitária deseja uma guerra em qualquer lugar do mundo. Entretanto, uma nação — ainda que detenha superioridade bélica — não pode assistir, impunemente, a um Estado soberano ser entregue ao narcoterrorismo sem uma resposta à altura, sobretudo quando esse sistema criminoso tem como mercado clandestino a própria pátria que é atingida por ele. A droga, em última instância, precisa ser tratada como uma doença, cujo ciclo começa na produção fora do território e é, muitas vezes, sustentado por governantes irresponsáveis.

O avanço do narcotráfico, aliado à complacência política, destrói a soberania, desintegra a sociedade e transforma nações inteiras em reféns do crime.

Em nosso próprio território, o cenário é alarmantemente próximo. Políticos se curvam por incompetência, omissão ou má-fé, enquanto o Estado perde gradualmente seu domínio. Um exemplo foi a Cracolândia. A situação é ainda mais grave quando observamos a presença e o fortalecimento de grupos armados como Comando Vermelho, PCC, Novo Cangaço, Falange Vermelha, Terceiro Comando da Capital, Amigos dos Amigos, Lindinha e inúmeras outras facções, muitas delas comandadas de dentro dos próprios presídios, inclusive federais. Soma-se a isso o crescimento das milícias paramilitares, frequentemente a serviço de interesses políticos, demonstrando que também provamos do mesmo “veneno”: as drogas.

Ditadores agarrados a ideologias falidas, como o comunismo autoritário, compartilham práticas igualmente nocivas. Utilizam-se do assistencialismo como ferramenta de controle e ocultam, sob o pretexto de proteção social, a própria falência administrativa e moral. Presidentes e governadores, eleitos por um povo carente, reagem, mas não governam verdadeiramente para essa população. No Brasil, onde a democracia não existe — haja visto que somos obrigados a votar, a servir e a produzir provas contra nós mesmos — o voto é obrigatório, e a mão que alimenta muitas vezes chantageia quem depende dela, perpetuando-se no poder à custa de instituições esvaziadas.

Voltando ao cenário sul-americano, a história recente demonstra que diversos conflitos só foram contidos pela força: juntas militares, ditaduras, guerrilhas e líderes autoritários marcaram Brasil, Argentina, Venezuela, El Salvador, Equador, Colômbia, Bolívia e Paraguai. Nesse contexto, ao tentar impedir o tráfico sob o comando de Maduro, Trump, ainda que por meios extremos, sinaliza uma ruptura com as estruturas do narcoterrorismo na região e aponta para um novo desenho geopolítico em formação.

Falar do Cone Sul é, inevitavelmente, falar do Brasil — o celeiro do mundo e o eixo estratégico da América do Sul. Não se trata mais de nomes ou figuras políticas desgastadas, mas da necessidade de desmontar projetos de poder que conduzem a região ao colapso econômico, moral e institucional. Em 2026, o Brasil terá a oportunidade de se realinhar como nação ou de capitular ao abismo. Resta-nos aguardar não um “salvador da pátria”, mas uma liderança que abandone a palavra impossível e construa uma verdadeira política de êxitos, capaz de resgatar mais de 200 milhões de brasileiros da deriva atual.