RESENHA:  A pátria de chuteira veste a camisa vermelho e preto.

Agenor Candido Gomes – 02/12/2025

Em 1968, em plena ditadura, o Brasil conquistava o tricampeonato mundial de futebol, no México. Eram momentos difíceis, impublicáveis, e o regime militar investia na melhora de sua imagem, incentivando o povo a cantar “Avante, 90 milhões em ação…”, utilizando a manipulação típica das ditaduras. A censura estava presente — talvez menor do que hoje — mas, ainda assim, o povo sorria.

Agora, com o tetracampeonato da Copa Libertadores, vi novamente os sorrisos do povo. É quase um momento sublime testemunhar os invisíveis vivendo instantes de alegria sem manipulação política direta. Brasileiros de todos os rincões, e até mesmo torcedores de outros times, uniram-se em momentos de descontração. Quem testemunhou a noite no Rio de Janeiro guardou uma imagem tão forte quanto a das grandes festas internacionais de Ano-Novo.

O Rio de Janeiro parou para festejar — não só o Rio, mas o Brasil inteiro. E havia motivos de sobra: foi um feito inacreditável. Logo depois, o Flamengo acumularia mais um título no Maracanã, o Campeonato Brasileiro.

Hoje somos 240 milhões de brasileiros, angustiados com a incerteza da nossa pátria, do nosso continente, do nosso futuro instável. Entretanto, o Flamengo venceu — e os problemas continuam logo a seguir. A Copa do Mundo já nos espreita. A bipolarização irracional segue dando o tom: ameaças, sanções, corrupção. E, restaurada a consciência, percebemos que a vida segue — segue mal, mas segue.

Em 2026, que está logo ali, que Deus nos ajude. Estaremos novamente de chuteiras, e talvez apenas assim o povo volte a sorrir sem mentiras. Seguimos aguardando o 3IATLAS, que estaria a caminho — e, se for verdade que dentro desse cometa ou nave espacial seres nos observam, então, se Deus é brasileiro, certamente os ETs serão flamenguistas também.


📝 RESENHA CRÍTICA

O texto apresenta uma reflexão que mistura memória histórica, paixão futebolística e crítica sociopolítica. A narrativa parte da lembrança de 1968, quando o regime militar usou o tricampeonato mundial como ferramenta de propaganda, para analisar o impacto emocional do recente tetracampeonato do Flamengo na Libertadores e seu efeito sobre o povo brasileiro.

A obra destaca o futebol como elemento raro de união nacional, capaz de suspender, ainda que por horas, as aflições de um país mergulhado em incertezas políticas e sociais. Ao comparar dois momentos separados por mais de meio século, o autor aponta que, apesar das diferenças de contexto, a alegria popular permanece como respiro num país marcado por crises recorrentes.

A resenha também nota a ironia fina do texto: enquanto celebra a paixão do torcedor, ele denuncia a manipulação política — antiga e contemporânea — e lembra que, passada a euforia, os problemas retornam intactos. O encerramento, com tom quase literário e toque de ficção — citando o “3IATLAS” e extraterrestres flamenguistas — reforça o contraste entre a fantasia do futebol e a dura realidade do país.

No conjunto, trata-se de um texto que usa o Flamengo como símbolo maior da identidade emocional brasileira, revelando como o futebol funciona como válvula de escape diante de uma sociedade cansada, polarizada e descrente. É uma crítica social travestida de celebração popular.