O Ponto Sem Retorno da Política Brasileira
EDITORIAL 7 PORTS
O Ponto Sem Retorno da Política Brasileira
Texto: Agenor Candido Gomes
Editorial 7 Ports
Data: //2025
A política brasileira atravessou aquilo que, na filosofia, chamamos de ponto sem retorno — o instante em que um sistema deixa de ser reformável e se revela irreversivelmente esgotado. Este ponto é mais que um marco histórico; é uma mudança de consciência coletiva. Depois dele, o país não volta mais ao estado anterior. Nem o povo volta a ser ingênuo. Nem o Estado volta a ser legítimo. Nem a política retorna ao terreno da confiança.
O Brasil cruzou essa linha.
E fez isso silenciosamente, sem revoluções nas ruas, mas com uma revolução na percepção nacional: a de que o modelo atual não é democrático — é apenas obrigatório. Obriga-se a votar, obriga-se a servir, obriga-se inclusive a produzir provas contra si. A democracia, que deveria ser escolha, tornou-se dever. E onde a escolha é suprimida, a liberdade morre.
A quebra irreversível do pacto social
O pacto social de um país só existe enquanto o Estado garante segurança, justiça e liberdade em troca da obediência do cidadão.
No Brasil, esse pacto foi rompido.
Quando o Estado cobra sem devolver, quando prende sem julgar, quando julga sem imparcialidade, quando legisla sem representar, quando administra sem servir — não há contrato, há imposição. E uma imposição não pode ser chamada de democracia.
Este é o ponto sem retorno institucional brasileiro:
o instante em que a população percebe que o pacto federativo, eleitoral e constitucional não funciona — e não tem como funcionar.
A normalização do absurdo
Nenhuma sociedade permanece saudável quando:
- escândalos deixam de surpreender;
- corrupção vira rotina;
- violência estatal é vista como “necessária”;
- eleições se transformam em cerimônias vazias;
- cargos públicos viram feudos de corporações;
- decisões judiciais substituem a vontade do povo.
É nesse momento que o sistema atravessa sua fronteira final: o absurdo deixa de ser excepcional e passa a ser normal. Quando a anormalidade se estabiliza, o regime entra em decadência irreversível.
É aí que mora o ponto sem retorno político.
A consciência desperta não volta a dormir
Um país pode ser enganado, mas não por tempo infinito.
Quando a população percebe:
“Somos obrigados a votar; isso não é democracia.”
“Somos obrigados a produzir provas contra nós; isso não é justiça.”
“Somos governados por corporações e não por representantes; isso não é República.”
… então o sistema se torna insustentável.
A consciência despertou.
E nenhuma consciência, uma vez aberta, volta ao estado anterior.
Este é o ponto sem retorno filosófico: o evento interno que altera a natureza de uma nação.
O futuro que se impõe: colapso ou reinício
Após esse ponto, um país só tem dois caminhos:
1. Radialização do controle
O sistema endurece para se manter:
- censura,
- vigilância,
- processos seletivos,
- criminalização da dissidência,
- fortalecimento da burocracia,
- restrição da liberdade civil.
Ou…
2. Reconstrução constitucional
O povo exige não reformas, mas refundação:
- uma nova constituição conceitual escrita por representantes do terceiro setor;
- legisladores apenas para instruí-la juridicamente;
- e sua promulgação pelo próprio povo;
- uma nova lei eleitoral que devolva o voto à esfera da escolha;
- um novo pacto federativo que devolva autonomia ao cidadão, não ao aparelho estatal.
Este é o ponto sem retorno construtivo: o início da nova política, e não da política velha com maquiagem nova.
Conclusão
O Brasil não está prestes a cruzar seu ponto sem retorno.
Ele já o atravessou.
Agora, o país se encontra diante da curva histórica onde apenas duas possibilidades existem: o colapso definitivo do regime atual ou a emergência de uma nova ordem constitucional, social e moral.
A escolha já não é “voltar ao que era”.
Esse caminho não existe mais.
A única estrada é adiante — e a direção dependerá da coragem do povo, da lucidez da sociedade civil e da capacidade de se reconhecer que o sistema, assim como está, terminou.













































































