Governo Trump discute estratégia militar após ataques à Venezuela, enquanto Maduro reafirma lealdade e mobiliza aliados internacionais

O governo dos Estados Unidos convocou nesta segunda-feira (01/12/2025) uma reunião de segurança nacional para discutir os recentes ataques americanos contra embarcações na costa da Venezuela, enquanto Nicolás Maduro reafirmou lealdade ao país e acusou Washington de ampliar ações hostis na região. O avanço das tensões ocorre em meio ao acirramento do embate político, militar e diplomático entre Caracas e Washington.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, confirmou que o presidente Donald Trump discutirá com autoridades de segurança os próximos passos da gestão na região. A reunião, segundo a porta-voz, envolve “assuntos diversos”, mas integra a agenda de resposta aos episódios registrados nas últimas semanas. A CNN antecipou que o encontro seria dedicado à escalada venezuelana.
Participam da reunião o secretário de Guerra Pete Hegseth, o chefe do Estado-Maior Conjunto Dan Caine, o secretário de Estado Marco Rubio, a chefe de gabinete Susie Wiles e o vice-chefe de gabinete Stephen Miller. Leavitt afirmou que Trump se reúne com a área de segurança “com frequência”, mas não detalhou decisões previstas.
O domingo (30/11/2025) foi marcado pela publicação do Miami Herald, segundo a qual Washington teria pressionado Maduro a deixar o cargo e oferecido “passagem segura” para ele e familiares. O governo venezuelano não reconheceu a informação.
Tensões legislativas nos EUA também se intensificaram, com republicanos e democratas prometendo investigar denúncias sobre possíveis ataques americanos contra barcos de pesca no Caribe.
Reação de Maduro e mobilização política em Caracas
Durante manifestação pública em Caracas no domingo (30/11/2025), Maduro declarou “lealdade absoluta” ao país e rejeitou o que chamou de tentativas de enfraquecer sua autoridade. A mobilização ocorreu no mesmo momento em que o governo Trump preparava nova reunião estratégica sobre a região.
O presidente afirmou que o envio de tropas americanas ao Caribe há 22 semanas “coloca o país à prova” e reforçou sua posição contrária ao que descreveu como imposições externas. Ele também retomou críticas ao papel dos EUA nas sanções contra a Venezuela.
As Forças Armadas americanas realizaram 21 ataques desde setembro contra supostos barcos de narcotráfico, resultando em pelo menos 83 mortes, segundo números divulgados por autoridades.
Comissão Rússia–Venezuela e acordos estratégicos
Em paralelo ao aumento das tensões com os EUA, a Venezuela reforçou laços com a Rússia durante a 19ª reunião da Comissão Intergovernamental de Alto Nível (CIAN), realizada em novembro (2025). O encontro resultou em 19 acordos assinados e 42 novas iniciativas, abrangendo dez setores, incluindo defesa, tecnologia e finanças.
A vice-presidente Delcy Rodríguez classificou a parceria como estratégica e de longo prazo. O cientista político César José Ramos Cedeño afirmou que os acordos representam mais de 300 iniciativas acumuladas ao longo da cooperação bilateral.
Entre as prioridades, destacam-se projetos de tecnologia, farmacêuticos e a adoção do sistema de navegação russo GLONASS, apresentado como alternativa ao GPS. A cooperação em defesa envolve “modernização técnica” das Forças Armadas venezuelanas, interoperabilidade, manutenção e integração de sistemas de segurança.
Impacto geopolítico e estrutura paralela às sanções
Analistas apontam que a parceria entre Rússia e Venezuela busca consolidar um espaço geoestratégico compartilhado, com foco em soberania tecnológica, financeira e logística. A criação de mecanismos alternativos de pagamento e novas rotas comerciais pretende reduzir a dependência de instituições ocidentais e mitigar efeitos das sanções.
Iniciativas de desdolarização, uso de rublos e bolívares, e desenvolvimento de canais próprios de circulação de bens, serviços e capitais integram o plano bilateral.
Acusações venezuelanas contra os EUA e apelos internacionais
Em carta enviada à OPEP em 29/11/2025, Maduro afirmou que os EUA fazem “ameaças constantes” e buscam controlar reservas petrolíferas venezuelanas “à força”. O chanceler Yván Gil Pinto disse que o país seguirá “firme na defesa de seus recursos naturais”.
O presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, classificou como “assassinato” as mortes de venezuelanos nos ataques americanos e anunciou a criação de uma comissão parlamentar para investigação.
Possível bloqueio aéreo e marítimo e análise de especialistas
Em meio ao fechamento do espaço aéreo venezuelano anunciado por Washington, o analista político Emilio Hernández afirmou que a medida pode ser o início de um “bloqueio aéreo e marítimo”, parte de uma escalada que sucede a restrições financeiras e bloqueios contra a PDVSA.
Hernández avalia que o objetivo dos EUA seria “estrangular a economia venezuelana”, mas argumenta que o impacto seria limitado pela diversificação das exportações e pela presença de aliados estratégicos como China e Rússia.
Ele destaca também que, diferentemente de cenários como Líbia e Síria, os EUA não contam com grupos armados aliados dentro da Venezuela, o que reduziria a possibilidade de reproduzir operações semelhantes às da OTAN em 2011.
*Com informações da Sputnik News.













































































