A mentira dos Cliques, dos Enfluencers e dos que querem se manter no Poder. – bandidos!

O SER HUMANO NÃO CONSEGUIRÁ DESTRUIR A DEMOCRACIA

Editorial 7 Ports – Agenor Cândido

O ser humano — essa sofisticada máquina biológica projetada para cerca de cem anos quando bem preservada — atravessou eventos capazes de extinguir qualquer espécie menos resiliente. Sobrevivemos a catástrofes naturais intermináveis, dominamos o fogo há cerca de 400 mil anos, resistimos às glaciações encerradas há 12 mil anos, enfrentamos guerras tribais, imperiais e tecnológicas, assistimos a batalhas decisivas, a duas guerras mundiais e ao marco nuclear de 1945, quando o mundo finalmente entendeu que a humanidade adquirira a capacidade de destruir a si própria.

Passamos por endemias devastadoras:

  • Peste Negra (1347–1351) – um terço da Europa caiu;
  • Gripe Espanhola (1918–1920) – meio bilhão infectados;
  • HIV (desde 1981) – 40 milhões de mortes acumuladas;
  • COVID-19 (2020–2022) – o planeta paralisou por dois anos.

Impérios surgiram e desabaram: Egito, Roma, Bizâncio, Mongóis, Astecas, Britânicos. Cada um acreditou ser eterno; nenhum era. A humanidade resistiu a todos eles — e continua.


A Caminho da Democracia

Com a Revolução Industrial (1760–1840), o homem saiu do campo; a ciência ampliou a longevidade; o Iluminismo do século XVIII reacendeu a razão e desembocou na ideia revolucionária de que todos deveriam ter voz: uma pessoa, um voto.

Acreditou-se que isso bastaria.
Não bastou.

A democracia exige algo que o mundo jamais alcançou: instrução universal mínima. Sem ela, não há consciência coletiva, apenas grupos isolados disputando narrativas.

Enquanto isso, culturas nativas tentam preservar tradições incompatíveis com a modernidade; religiões violentas mantêm o dogma primitivo do “olho por olho, dente por dente”; ideologias mortas reaparecem travestidas de modernidade; e a promessa oportunista de paraísos pós-morte transforma inocentes em soldados de causas alheias.

A corrupção política, a eleição de incompetentes — fenômeno recorrente desde os anos 1980 — e o avanço do narcoterrorismo ocupam espaços que antes eram dominados pelas ditaduras militares clássicas do século XX. Hoje, Estados inteiros se rendem à criminalidade organizada ou à teocracia, substituindo regimes de força por regimes de fé cega.


O Inimigo da Democracia Evoluiu

O ataque não é apenas físico ou institucional.
É psicológico, digital, emocional.

Primeiro destrói a família; depois contamina mentes com ideologias fossilizadas; mais tarde aplica sua arma final: o ataque direto à verdade, fundamento da democracia.

E quando a verdade cai, cai tudo.


A Revolução da Mentira

Recordo 1968. Eu assistia ao Jornal da Tupi, de Hilton Gomes, através de um plástico que protegia a televisão. Era o auge da chamada “revolução da informação”. Acreditávamos que, finalmente, saberíamos de tudo.
Não sabíamos.

A manipulação começou cedo.
Então vieram:

  • 1990–2000: a internet comercial;
  • 2007: o smartphone;
  • 2010–2020: as redes sociais como novo poder global.

Hoje, cada indivíduo possui um canal de comunicação planetário — e publica tanto o que sabe quanto o que não sabe. A falsa sensação de fama, relevância e influência explodiu: milhões de visualizações fabricadas, curtidas automatizadas, métricas inventadas.

Era tudo mentira.

A partir de 2015, surgiram as “fazendas de cliques” — galpões inteiros substituindo o gado por celulares.
Ganhou-se muito mais dinheiro criando seguidores falsos do que criando bois.
A fraude virou indústria bilionária.

Produtos e serviços passaram a ser empurrados à sociedade por algoritmos viciados.
Sem legislação.
Sem fiscalização.
Sem Estado.

Os crimes são evidentes: má-fé, conluio, estelionato, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, prevaricação.
Mas o silêncio das autoridades é ensurdecedor.

A quem serve tudo isso?
Quem lucra com essa máquina de enganar?
Por que o Estado se cala?

O século XXI criou seu próprio analfabetismo — o digital.


**O Ser Humano Pode Estragar Muito.

Mas Não Pode Destruir a Democracia.**

A democracia nasceu na Grécia do século V a.C., sobreviveu ao colapso de Atenas, às monarquias absolutistas, ao feudalismo, à Revolução Francesa, ao nazifascismo, ao comunismo soviético, às ditaduras latino-americanas e hoje enfrenta a desinformação digital.

A democracia é uma obra inacabada.
E exatamente por isso, não pode ser destruída.

Porque ela não é um sistema estático.
É um processo vivo.
É um pacto que se renova.

Pode ser ferida, distorcida, capturada, manipulada — mas não eliminada.
Enquanto houver seres humanos que desejem liberdade, ainda que poucos, ela ressurgirá.

Os corruptos, os estúpidos úteis, os analfabetos digitais, as máquinas de fraude e os comerciantes da mentira podem atrasar o progresso.
Mas não podem apagá-lo.

A democracia não capitula.
Ela se transforma.
E retorna.
Sempre.

Porque, no fim, ela é a única invenção humana que nunca se completa — justamente porque nunca pode ser destruída.