Morre o mais antigo Bicheiro do Brasil – Peruinha
Corpo do bicheiro Piruinha é enterrado em cemitério da Zona Norte sob aplausos e ao som de samba-enredo da Portela
Durante o velório, contraventor recebeu homenagens de seus pares, escolas de samba e artistas como Alcione, Zeca Pagodinho e Xande de Pilares; ele tinha 95 anos e morreu em decorrência de uma pneumonia
Por Vittoria Alves
— Rio de Janeiro
23/01/2025 14h54 Atualizado há 2 dias
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RESUMO
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O corpo do bicheiro José Caruzzo Escafura, o Piruinha, de 95 anos, foi enterrado na tarde desta quinta-feira no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio. No local, amigos e familiares homenagearam o bicheiro entoando o samba-enredo “Gosto que me enrosco” da Portela, de 1995. Ao se despedir, a filha Márcia Escafura enfatizou que a família fez de tudo pela saúde do pai. E comentou os rumores de desavença com os irmãos e sobrinhos.
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— Nós fizemos de tudo por ele e faríamos tudo de novo. Meu pai, vai com Deus. A gente vai se unir, sim. Eu, meus irmãos e meus sobrinhos. Não vai ter briga não, nós somos da família Escafura — esbravejou Márcia, que foi aplaudida em seguida.
Apesar disso, Monalizza Escafura, outra filha do contraventor — são 27 ao todo — se manteve afastada durante todo o sepultamento. Ela saiu logo após o enterro; alguns familiares ainda permaneceram no local por cerca de 15 minutos.
Monalizza ficou presa durante um mês no ano passado por extorsão e lavagem de dinheiro. Ela, que estava foragida desde maio de 2021, foi encontrada durante uma operação do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio (MPRJ), e da Polícia Federal no Morro do Vidigal em junho de 2024. Em junho, a Justiça do Rio mandou soltá-la.
Homenagens
Membro mais velho da antiga cúpula do bicho no Rio, Piruinha foi homenageado por parentes e amigos, que se reuniram na tarde desta quinta-feira para dar o último adeus a ele no Clube Sambola, em Piedade, na Zona Norte. Além das centenas de pessoas que passaram pelo local, cerca de 30 coroas de flores exibiam mensagens de carinho. Uma delas estava assinada pela família Guimarães, que tem como patrono o contraventor Aílton Guimarães Jorge, mais conhecido como Capitão Guimarães. Famosos, como o cantor Zeca Pagodinho, o Grupo Revelação e a cantora Alcione, também enviaram homenagens.
Escolas de samba também mandaram coroas de flores, como a Unidos da Tijuca e a Grande Rio. Em cima do caixão e em mastros, foram colocados os pavilhões do Salgueiro, Mangueira, Portela, Imperatriz, Unidos do Cabuçu e Acadêmicos da Abolição.
O cantor Xande de Pilares foi um dos artistas que compareceu ao velório. Ele não segurou as lágrimas ao falar sobre a importância do bicheiro na sua carreira:
— Seu Zé era pai, avô e tio. Ele faz parte da minha história toda. Quando eu vinha aqui no Sambola, do outro lado da rua, uma vez não me deixaram cantar, e ele que pediu para deixarem eu me apresentar. Aí agora, antes de sair o resultado do samba-enredo, a gente se reuniu, ele me abençoou. A única coisa que ele sempre pediu para mim foi para manter o pé no chão. O pai que eu perdi, ele entrou no lugar dele.
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Abalados, alguns dos 27 filhos de Piruinha e os netos foram consolados com abraços e falas de apoio. Um dos netos, Júnior Escafura, se diz orgulhoso de saber o quanto o avô era querido e perceber que seu legado será eterno.
— Meu avô era uma pessoa querida, é só ver a quantidade de gente que está aqui. É um momento triste, mas ao mesmo tempo a gente tem o conforto de que ele descansou. Ele tinha 95 anos, curtiu e viveu a vida. Meu avô ainda estava passando por uns problemas de saúde, então agora ele descansou em paz porque ele não merecia sofrer — disse.

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Parentes e amigos se despedem do bicheiro Piruinha ao som de ‘Malandro’
Outro neto, José Luiz Escafura lembrou do quanto o bicheiro gostava de realizar festas tradicionais no subúrbio. Ele destacou que Piruinha foi um incentivador do carnaval, do samba e de artistas que hoje se destacam no cenário da música brasileira:
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— Recebemos diversas manifestações nas redes sociais, as pessoas de Abolição e Piedade estão sentindo muito esse momento. Foram muitas pessoas que ele ajudou nesse bairro. Além disso, ele que era responsável por fazer todas as festas tradicionais. Ele incentivou o carnaval e a música, é só ver quantos artistas ele lançou aqui no Sambola. Os moradores do bairro acabam ficando órfãos, ele foi único.
Mas uma presença em especial chamou atenção de quem foi dar último adeus ao contraventor: o Fato Novo, a calopsita de estimação do bicheiro. Segundo parentes, Piruinha era muito apegado ao pássaro e diariamente tomavam café da manhã juntos.
— A gente sempre chegava na casa dele e ele perguntava: “tem fato novo aí?”. Meu avô adorava saber as novidades. Aí, de tanto que ele gostava disso, deu o nome da calopsita de Fato Novo — explicou o neto Júnior Escafura.
O contraventor morreu na tarde de quarta-feira em sua residência na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ele havia recebido alta um dia antes, após passar 10 dias internado no Hospital Vitória, no mesmo bairro, devido a uma pneumonia.
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Problema de saúde
Segundo o amigo e advogado Joaquim Queiroga Neto, a saúde de Piruinha começou a deteriorar após um acidente no banheiro de um presídio, onde estava detido sob acusação de homicídio. Na queda, ele fraturou a bacia e precisou ser submetido a uma cirurgia. Posteriormente, foi para casa em regime de prisão domiciliar e chegou a usar tornozeleira eletrônica, que foi retirada pouco tempo depois. Com problemas cardíacos, Piruinha também foi internado novamente para realizar uma ponte de safena.
— Infelizmente, recebemos essa notícia inesperada. Ele foi internado devido a uma gripe que evoluiu para pneumonia, mas reagiu bem aos antibióticos e recebeu alta — lamentou o amigo.
Piruinha era o contraventor mais antigo da velha cúpula do jogo do bicho. Recentemente, ele foi um dos destaques da série documental Vale o Escrito, da Globoplay. Entre os nomes da antiga geração, continuam vivos Aniz Abraão David, o Anísio, e Aírton Guimarães Jorge, conhecido como Capitão Guimarães.
Prisões do bicheiro
Piruinha era um dos 14 bicheiros presos por formação de quadrilha ou bando armado, tráfico de drogas e tortura, pela juíza Denise Frossard, em 1993. Os contraventores presos à epoca, formava a antiga cúpula da contravenção: Castor de Andrade; Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães; “Anisio” Abraão David; Luizinho Drummond; Antônio Petrus Kalil, o Turcão; Waldemiro Garcia, o Miro; Carlos Teixeira Martins, o Carlinhos Maracanã; José Petrus, o Zinho (irmão de Turcão); Raul Capitão; José Caruzzo Escafura, o Piruinha; Haroldo Rodrigues Nunes, o Haroldo Saens Pena; Emil Pinheiro, Paulinho de Andrade (filho de Castor) e Waldemir Paes Garcia, o Maninho (filho de Miro).
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Em 2022, ele voltou a ser preso numa operação da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), desta vez acusado de ser o mandante com a filha Monaliza Escafura, da morte de Natalino José do Nascimento Espíndola, conhecido como Neto, dono de uma loja de carros. O motivo do crime seria porque Neto teria feito ambos perderem dinheiro num empreendimento imobiliário.
Na denúncia para prendê-lo, o Ministério Público do Rio relata que o contraventor “exerce, há décadas, o domínio do jogo do bicho em diversas regiões da cidade, em especial nos bairros de Madureira, Abolição, Cascadura, Maria da Graça, Piedade e Inhaúma”. E prossegue: ‘“Piruinha ainda arrenda outras áreas para exploração de jogos de azar para outros contraventores, dentre elas as divisas com os bairros de Cascadura, Piedade, Pilares, Abolição, Quintino, Campinho e a divisa com a Praça Seca”.
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